10 Dicas no Primeiro Treino

Existe grande empolgação e expectativa quando se ingressa no Kendo. Muito do que é pesquisado sobre esta arte marcial envolve principalmente vídeos de competições de alto nível e textos que podem exagerar na atmosfera mística da atividade, tornando sua impressão um tanto glamorosa. Por isso, ao ingressante, que passará pelo menos seis meses em um ciclo de aprendizado de fundamentos, este guia traz dez tópicos básicos sobre o que esperar na primeira aula, e sugestões de como encarar os treinamentos.

Os iniciantes no Kendo são chamados shoshinsha (初心者), cuja tradução aproximada é “aquele cujo coração e espírito estão se iniciando”. O termo designa uma pessoa que é iniciante em algum tipo de empreitada, e denota a ideia de alguém “puro” que está absolutamente atento a todos os comandos e instruções para aprender o mais que puder a cada treino!

 

1) Reverências e agradecimento:

O Kendo é uma arte marcial tradicional que possui forte integração a rituais culturais japoneses. Assim, os cumprimentos e reverências estão presentes em muitos momentos, e são levados bem a sério. Entretanto, não há uma relação religiosa direta quando se faz reverência a altares orientais, e é sempre explicado que deve existir o sentimento de gratidão a cada vez que se curvar. Nos primeiros treinos, é cobrada do ingressante a etiqueta adequada para ser portar em aula, como cumprimentar e agradecer os companheiros de treino, e formalidades diversas. Fique atento aos detalhes de como proceder para não se sentir desconfortável e ser sempre respeitoso;

 

2) Entendendo o Kendo como arte marcial:

Uma das principais fantasias relacionadas à luta do samurai é o fator “efetividade”. Aos ingressantes, curiosos e ainda sem conhecer o contexto e história do Kendo, muito se foca em querer ter golpes “fortes, rápidos e reais”. Há excesso de questionamento sobre “porque não pode fazer isso” ou “porque não faz daquele jeito”. O treinamento em arte marcial deve ser focado em técnica e paciência, ou seja, movimentos tidos corretos – independente de velocidade ou impacto – serão sempre preferíveis. Fazer certo é muito mais importante em longo prazo do que ser rápido ou golpear forte. E não questione as técnicas, apenas absorva para entender gradualmente como funcionam. Trata-se de movimentações testadas em batalhas reais e históricas, e são altamente funcionais DESDE QUE se tenha conhecimento e entendimento de como aplicar do jeito correto;

 

3) Shinai, bokuto, katana:

Mesmo no tempo dos samurai, treinar com bokuto (katana de madeira) era apenas para delimitar a forma do movimento, sem jamais tocar o corpo do adversário. Não existe “treino real” (de contato) com bokuto.  Ele é usado somente em três tipos de treinamento: suburi, Kendo Kata e Bokuto ni Yoru Kendo Kihon Waza Keiko-Ho (método de treinamento de técnicas de fundamento para ataque e contra-ataque).

O shinai (katana de bambu) foi desenvolvido justamente para a aplicação de impacto, atuando como enorme evolução no modo de treinar. Ele é usado em praticamente todas as rotinas, salvo Kendo Kata.

O uso de espadas de metal no Kendo é reservado para instrutores e mestres que se apresentam em eventos, e estas armas não são afiadas. E são usadas unicamente para apresentações de Kendo Kata, que reforça a tradicionalidade da arte.

Existe o treinamento com espadas menores (kodachi), mas somente para estudo do Kendo Kata em níveis mais avançados;

 

4) Movimento de pés (ashi-sabaki):

Kendo é uma arte marcial diferenciada no sentido de possuir movimentos pouco comuns para o andar do brasileiro. Por isso, é necessário um extensivo treinamento em como movimentar os pés, como uma forma de realfabetização no modo de se deslocar.  Alguns podem ver o treino de suri-ashi tedioso, mas é justamente dele que parte os princípios do golpe e da pressão ao adversário. Fortalece não somente as pernas, mas também o quadril, origem da força do corte. É comum que, ao fazer de maneira errada, tenha atrito demasiado entre a pele do pé e o chão (o que cria bolhas e calos). Deve-se dominar o conceito-chave de deslizar os pés tirando o peso deles, e fazer com que o deslocamento seja cada vez mais leve e suave;

 

5) Suburi:

Treinamento que consiste em golpear o ar. Repetido às centenas, não deve ser feito sem orientação do sensei, principalmente por ingressantes mais empolgados: é muito fácil adquirir tendinite e males equivalentes achando que será forte “mais rápido” se fizer milhares de repetições por dia ou usar pesos. JAMAIS faça isso! Desenvolva a paciência necessária e observe com muita atenção cada característica dos movimentos;

 

6) Kiai:

Elemento absolutamente necessário do treinamento. Sem ele não há ki, e assim, não há técnica letal. É muito comum o ingressante ter vergonha de vocalizar não somente os golpes, mas também as contagens durante os exercícios de aquecimento. Este ponto deve ser dominado quase que imediatamente para uma prática intensa e correta. E não se trata apenas de vocalizar: existe todo um conceito de como usar o diafragma para potencializar a energia dos ataques, e como respirar durante uma luta;

 

7) Kamae:

O conceito de kamae envolve complexas analogias como se ver como uma “fortaleza” e buscar estabilidade mental absoluta para não sair da postura se não for necessário. Um dos quesitos mais difíceis de dominar quando iniciante, concentra os conhecimentos da movimentação de pés, suburi e kiai para que dali saia o golpe definitivo. Em Kendo se estuda efetivamente o chuudan-no-kamae (postura média, apontando a espada para garganta do adversário) e em níveis mais avançados, hidari-jodan (elevando a espada acima da cabeça). E não espere poses de cinema, elas são inúteis frente à velocidade do Kendo como ele é hoje;

 

8) Uniforme, bogu e acessórios:

Não há necessidade de comprar equipamentos imediatamente. Caso tenha certeza absoluta que pretende continuar no Kendo, se informe com o instrutor e colegas sobre locais confiáveis para compra de materiais. NUNCA compre sem orientação deles, evite produtos “top de linha” e jamais adquira seu equipamento em lojas de enfeites orientais ou internet por conta própria. O uso do bogu deve ser autorizado pelo sensei, então só compre após receber a permissão. Se for um estudante assíduo e que não falta, em aproximadamente seis meses (pode ser um pouco mais ou menos, depende muito da perícia de cada pessoa) já teria o nível necessário para os treinamentos mais avançados;

 

9) Paciência

Aprece óbvio mas em tempos de redes sociais e ansiedade geral, todos queremos resultados rápidos ou achamos que em breve dominaremos certas coisas. É um pensamento absolutamente inocente e juvenil. Kendo é uma prática de longo prazo e demanda décadas de treinamento para se construir uma habilidade minimamente digna de elogio. Por isso, não se cobre demais no início pois há um volume imenso de informação no aprendizado do ingressante. Deixe que o tempo de prática naturalmente construa seu conhecimento e habilidade. Evite pensar em “atalhos” ou “fórmulas” para se destacar. Apenas treine com vontade, e este se mostrará o verdadeiro caminho;

 

10) Disciplina

Em um treino de Kendo você não pode parar só porque está cansado. Não pode beber água na hora que quiser. Nem fazer corpo mole. Essas atitudes atrapalham o andamento da sessão e eventualmente prejudicam o parceiro que está treinando certos exercícios com você. Por isso é exigido algum grau de resistência em respeito ao treino em si e aos envolvidos. Mas os sensei entendem que para o ingressante o treino pode ser difícil e ninguém quer ver um colega passando mal. Se REALMENTE necessário, não há problemas em pedir para descansar, mas tenha em mente que isso deverá ser uma exceção. A mesma disciplina é exigida em todos os comandos e cerimoniais dentro da sessão.

 

Como orientação final, deve ficar absolutamente claro que no Kendo não se deve impor seus trejeitos ou querer fazer os movimentos (principalmente com o shinai) fora daquilo que está sendo explicado. Também no dojo não é lugar para “personalizações” ou acessórios extras que não são comuns aos praticantes (como bandanas, lenços ou qualquer tipo de penduricalho). E para uma segunda sessão de treino, não se esqueça de esparadrapo ou equivalentes!

Esperamos que essas dicas esclareçam um pouco do Kendo, que envolve tanto seriedade em sua prática como um amor imenso por aqueles que o carregam consigo. Não deixe de procurar por uma academia que ensine o LEGÍTIMO KENDO, que é encontrado somente com instrutores qualificados pela Confederação Brasileira de Kendo!

Acostume-se a lidar com a disciplina das pequenas coisas. Na tradição japonesa dos guerreiros, quem não se importa em seguir as pequenas coisas não é confiável para aprender – ou lidar com as grandes!

 

Segue abaixo uma lista de materiais que possam interessar, e se puder, ajude a divulgar!

Saiba quanto custa treinar o VERDADEIRO Kendo aqui.

Saiba aqui onde estão as academias que ensinam a verdadeira arte da espada japonesa no Brasil.

Conheça as rotinas de treino aqui: #Como é um Treino de Kendo e #Guia Para a Prática de Kendo

Entenda um pouco da etiqueta do Kendo aqui

 

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Postado em 21 de Fevereiro de 2019.